por Marcelo Tella
Muitos jogadores perdem muito tempo se preocupando com os aspectos técnicos dos golpes. Muitas vezes eles esquecem que ajustes técnicos são importantes, mas os maiores progressos, que resultam em mais vitórias, vêm de focar nas estratégias mais simples do jogo.
É elementar, mas a gente acaba esquecendo um conceito crucial: todo ponto, numa partida de tênis, é perdido porque um jogador coloca uma bola a menos na quadra do que seu adversário. Esta é a simples verdade. Em nossas tentativas de bater com spin, colocar força, ou fazer algo especial com uma jogada, nós esquecemos que algumas vezes, tudo o que nós precisamos é colocar a bola na quadra. Para muitos jogadores, a coisa mais difícil é ficar consistente. Então, nunca subestime a eficiência de um jogo regular. Se possível, adicione profundidade e velocidade pra ver se seu adversário tem capacidade de agüentar. Mas como já foi provado, manter a bola na quadra já é bom o suficiente.
Bons competidores tentam jogadas que eles acreditam que vão acertar. E isto é bem verdade em pontos importantes. Você pode ter habilidade de acertar jogadas incríveis, mas precisa saber a hora certa de tentá-las. Raramente você vai ver um Federer tentar jogadas loucas em pontos cruciais.
Para fazer isto, vamos fazer um círculo contendo todos os golpes que você executa com tranqüilidade. Dentro do círculo está aquele saque com slice ou a habilidade de devolver bolas. Logo fora do círculo, está aquele saque spin (kick) que você está aprimorando, ou aquele drop volley. Pode ser que você acerte estas jogadas de vez em quando, mas elas são muito arriscadas para horas importantes. Então, são as jogadas que estão “dentro” do círculo que você vai usar nas horas importantes.
Geralmente, acertar uma alta porcentagem de 1º saque é uma boa idéia em simples e duplas. Na maioria das vezes, se o 1º saque cai dentro, o sacador parte para a ofensiva. Do outro lado, quando se tem a chance de devolver um 2º saque, o devolvedor tem a chance de pressionar. Também, a sua porcentagem de 1º saque tem muito a ver com a eficiência do seu 2º saque. Se seu 2º saque é bom, você pode arriscar mais o 1º saque, e vice-versa. Isto também tem a ver com a eficiência da devolução. Se a devolução de saque do seu adversário é boa, trate de acertar muitos 1os saques.
Tudo é uma questão de matemática. Se você tenta aces em todos os seus 1os saques, pode ser que você ganhe 90% dos pontos quando você acerta. Mas se a sua porcentagem de 1º saque for 50%, você pode prever que vai ganhar 45% dos seus 1os saques. Grande parte do seu sucesso vai depender do seu 2º saque. Por outro lado, se você acertar 80% dos seus 1os saques, e por causa de um saque menos agressivo você ganhar 75% dos pontos que acertar o 1º saque, você aumenta a eficiência do seu 1º saque para 60%. Como você pode ver, existe uma combinação de força e eficiência que produz a chance maior de ganhar o ponto. Para cada jogador, a combinação é diferente. Procure a sua. A melhor maneira é jogar sets nos treinos e pedir pra alguém anotar:
- A % do 1º saque forte
- O no. de vezes que você ganha o ponto
- O no. de vezes que você dá o 2º saque
- O no. de pontos que você ganha com o 2º saque
Diminua a força do saque, e anote tudo novamente. E experimente também com estilos diferentes.
Quando você estiver fazendo uma estratégia, é importante conhecer bem seus pontos fortes e fracos. Até o ponto que você possa esconder o seu ponto fraco (e faze-lo menos vulnerável ao ataque do seu adversário) e usar todo o potencial do seu ponto forte, você vai ser mais eficiente no campo de batalha. Aqui vão alguns exemplos: Todd Woodbridge melhorou sua devolução de esquerda com o passar dos anos, mas ele sabe que a sua devolução de direita é bem melhor. Assim sendo, ele tenta devolver o máximo de vezes de direita. E ele consegue isso ficando 1 ou 2 passos para a esquerda na hora de devolver (ele é destro). Ao mesmo tempo que isso o deixa exposto a um bom saque slice, devolvendo mais vezes de direita vale a pena o risco. Pete Sampras usava uma tática semelhante nas trocas de bolas de fundo. Aos poucos ele ia caindo para a esquerda, cobrindo mais a quadra com seu forehand. Mas ao deixar o lado direito descoberto, Pete sabia que seu forehand na corrida era uma de suas melhores jogadas. Todos pensavam duas vezes antes de bater a bola lá.
Mudar a posição do saque, mesmo que pouco, pode ter um grande impacto. Uma vez, numa partida, depois de perder o 1º set por 6/1 eu mudei um pouco minha tática. Comecei a sacar bem aberto do lado direito da quadra. Tive que abrir mão do saque e voleio (ficava difícil de fechar a rede) mas por outro lado meu adversário viu uma bola diferente vindo, e teve que mudar a sua devolução. Eu tive condição de sacar mais aberto ainda, dificultando a devolução. Só com esta mudança, comecei a confirmar meus games de saque e fui só perder no tie-break do 3º set.
O Agassi usava a mudança de posição para beneficiar alguns de seus pontos fortes: seu saque spin (que pulava alto na esquerda do destro) e seu forehand. Quando mudava a posição para o lado esquerdo, ele fazia a bola pular alto e obrigava seu adversário a devolver um backhand de fora da quadra. Apesar de deixar a paralela aberta, o adversário na grande maioria das vezes cruzava de volta, colocando a bola bem no forehand do Agassi. Para machucar o Agassi do lado direito, a devolução teria que passar por fora da quadra. O mínimo erro na direção colocaria a bola no corredor (fora) ou direto no forehand do Agassi, para ele começar a dominar o ponto. Como você pode ver, uma pequena mudança no saque altera drasticamente o esquema tático.
Obviamente, eu acho importante a gente explorar e tentar coisas novas. Mas muitas vezes nós esquecemos que só o que temos a fazer é simplificar. O que você faz bem? Como você pode fazer isso mais vezes? Qual é o seu ponto fraco? Como esconde-lo? Faça as jogadas mais seguras. Seja esperto!